A ideia desse artigo é trazer um norte para quem quer começar a se envolver com desenvolvimento de jogos mas não tem a mínima ideia de como e nem por onde começar.
O texto está bem resumido, para não tornar a leitura muito maçante. Futuramente escreverei outros artigos, abordando de forma detalhada outros assuntos relacionados.
Como um jogo é feito?
A primeira coisa que você precisa colocar na sua cabeça é que um jogo é um software. E por causa disso, sua criação segue processos muito similares ao de um programa de computador.
Entender como um jogo é desenvolvido e quais profissionais são necessários é extremamente importante para que você descubra qual área terá mais afinidade. Se seu objetivo é fazer um jogo sozinho, precisará entender o que cada profissional faz, assim entenderá o que precisará aprender.
Muitos dos processos de desenvolvimento vão variar de lugar para lugar. Porém, em sua essência, a estrutura disso é sempre a mesma.
Basicamente o jogo vai ser estruturado da seguinte forma:
Gênero do jogo
É o tipo do jogo, o estilo dele.
Plataforma, RPG, puzzle, estratégia… há vários tipos e grande parte deles se misturam. Alguns jogos conseguiram trazer tanta inovação em sua proposta, que fica até mesmo difícil classificar a quais gêneros pertencem.
A escolha do gênero do jogo é importante, pois ela vai segmentar o seu público alvo (ou seja, as pessoas que irão comprar e consumir o seu produto).
Objetivo
É o que o jogador deve fazer para finalizar o jogo – e isso não é exatamente uma regra pois há jogos sem final!
Completar todas as fases ou acumular pontos são dois objetivos bem comuns.
O objetivo pode estar vinculado com uma história, mas não é uma regra.
Gameplay
É como o jogador interage com o jogo.
Quantas ações o jogador terá dentro do jogo, se o jogo será composto por fases ou capítulos, se terá suporte a multiplayer, etc.
O gameplay está vinculado ao tipo do jogo.
É muito importante que os requisitos acima estejam definidos, pois ele será a base do seu jogo. Se você tem ideias para jogos, sempre deixe bem claro esses três pontos. Isso irá facilitar muito os processos seguintes.
Em resumo, o processo de desenvolvimento vai seguir as seguintes etapas:
1. Definição de requisitos do projeto.
2. Definição da identidade visual, arte e trilha sonora do jogo.
3. Desenvolvimento do jogo.
4. Início do ciclo de testes. Os testes que falham, são reportados, corrigidos e revalidados.
5. Lançamento do jogo.
Tendo em mente que esses são as etapas necessárias para fazer uma ideia sair do papel, agora vamos pensar nos profissionais envolvidos para que isso ocorra.
Os profissionais envolvidos
Ao finalizar um jogo e ver os créditos subindo, provavelmente você se perguntou o que era cada uma daquelas profissões, certo? Aqui vou explicar um pouco sobre o que cada um faz.
Quero ressaltar que isso vai variar muito de um lugar para o outro, inclusive a nomenclatura do profissão. Em projetos pequenos, normalmente há pessoas responsáveis por mais de uma função. Então não estranhe caso você conheça algum profissional abaixo mas com outro nome ou função.
Programador
Também conhecido como desenvolvedor (muitas vezes abreviado para dev), é o responsável por fazer o código do jogo.
Apesar de existirem engines bem amigáveis (praticamente tudo com drag and drop), é importante que esse profissional tenha conhecimento em alguma linguagem de programação, pois jogos com mecânicas mais complexas irão exigir esse tipo de conhecimento.
UX Designer
É o responsável pela parte visual do jogo, mas não pela arte.
Posicionamento dos elementos da hud (contador de vidas e barra de hp, por exemplo), os menus que serão exibidos (durante ou antes de iniciar o jogo), as fontes que serão utilizadas, as cores…
O desafio desse profissional é tornar o entendimento do jogo o mais intuitivo e amigável possível para os olhos do jogador.
Artista
É o profissional que irá compor toda a parte visual do jogo, exceto pela interface (menu, hud, etc).
Ele que vai criar os personagens, objetos e cenários.
Pode ser focado em arte 2D ou 3D.
Animador
É o responsável por fazer as animações do que foi criado pelo artista.
Compositor/Sound Designer
É a pessoa responsável por fazer a trilha sonora e os efeitos sonoros do jogo.
Tester
Sua função é garantir a qualidade do jogo, reportando os bugs que devem ser corrigidos antes de seu lançamento.
Em projeto grandes, é responsável também por validar a correção de bugs que entraram em produção.
Level Designer
É o cara que vai fazer as fases, literalmente. Ele vai pensar nos desafios, inimigos e quebra-cabeças que cada fase irá trazer. Quando esse cargo existe em um projeto, normalmente seu trabalho é feito em conjunto com o game designer.
Game Designer
O game designer é responsável por planejar e executar como cada parte do jogo irá funcionar, de acordo com os requisitos estabelecidos (que normalmente é definido pelo produtor).
Por exemplo, considerando um projeto de um jogo de plataforma, ele será responsável pela definição de quantas fases e chefes o jogo vai ter, se será divido em capítulos, se terá um mapa, o nível dos inimigos, etc.
Ele precisa conhecer bem seu público alvo e com base nisso, quais são as melhores mecânicas para o tipo de jogo que está trabalhando.
Também pode ser responsável pela documentação do jogo (GDD).
Produtor
É o coordenador do projeto, a pessoa que vai validar se cada departamento está trabalhando na ideia do jogo como o esperado. Não é incomum que ele seja o autor da ideia do jogo ou a mente por trás de uma franquia.
Em projetos pequenos, o mais comum é que o produtor também seja o game designer.
Fazer um jogo exige bastante conhecimento, é muito mais complexo do que parece. Muitas pessoas estão envolvidas, além de ser necessário uma infraestrutura para que eles trabalhem. Por isso o custo de produção de jogos AAA é alto.
Até mesmo jogos simples vão exigir um mínimo de conhecimento, pois será necessário entender como ele será desenvolvido, qual a melhor engine, o estilo de arte que cairia melhor, etc.
Trabalhar em equipe ou sozinho?
Após entender um pouco mais sobre cada departamento, escolha a sua área de atuação e comece a estudar.
Não importa se é por cursos presenciais, vídeos no YouTube, lendo livros ou tirando dúvidas com quem já trabalha com isso. Corra atrás do conhecimento! Estarmos na época da internet torna tudo fácil, há muito conteúdo disponível.
Um ponto positivo é que há muitos profissionais na área de jogos digitais que podem atuam em outros mercados: filmes, desenhos animados, publicidade… isso ajuda bastante para ter ganho de experiência e pode ajudar a construir um portfólio.
Recomendo procurar por trabalhos de outras pessoas que atuam na área que você escolheu, para ter um referencial. Por exemplo, se quer ser produtor, conheça as mentes por trás da produção de franquias que você gosta.
Pratique muito! E além de fazer exercícios com jogos imaginários, uma das melhores formas de praticar é participando de pequenos projetos, hackathons e game jams. Isso irá trazer bastante noção de como um jogo é feito na prática, tanto na questão técnica quanto em lidar com outras pessoas.
Muitos estúdios pequenos têm surgido e caso você queira começar a investir nisso como uma profissão, será importante ter um portfólio com os jogos que participou.
Se você pretende fazer um jogo inteiro sozinho, saiba que precisará estudar muito mais.
Não é impossível fazer tudo sozinho, o difícil é ser bom em todas as áreas. Tenha ciência que há muita dedicação envolvida, pois é algo muito trabalhoso.
Axiom Verge e Papers Please foram dois jogos desenvolvidos por uma única pessoa. Se você tá buscando experiência e inspiração, recomendo conhecê-los!
Se arte e design não é a sua praia, você pode procurar por pacotes com sprites, modelos 3D e cenários prontos. O fato de você não tê-los criado não vai tirar o mérito de ter feito todo o resto do jogo sozinho.
É uma boa alternativa e pode ser útil em projetos com baixo orçamento.
Seja sozinho ou em equipe, o importante é não desistir!